quarta-feira, 31 de julho de 2013

PMM 94

            Lembrei-me agora, não sem motivo, que meses atrás, numa conversa de botequim, um recém conhecido se lamentava pela sua separação. Então, por insistência minha ou de outro, resolveu relatar o acontecido dizendo: “Me encontrava num bar com duas mulheres sentadas, uma em cada perna...” Logo após o assunto já se referia a estátuas encontradas em rios.

            Quanto ao primeiro fato, já tinha ouvido falar uma história muito semelhante de outra pessoa. Isto me fez desacreditá-lo. Quanto ao último, não havia me dado conta que tantas imagens emergissem de rios, parecendo até se tratar de um fenômeno natural em nosso mundo. Porém, devido à experiência que tenho, para mim, na menor das hipóteses, isso é ilógico.

terça-feira, 30 de julho de 2013

RMM – Autobiografia 54

            Hoje (16 de julho) acabei de passar a vista em minha autobiografia para ver se não havia escrito sobre as visitas que minha tia Verica, viúva do Totinha, nos fazia. Era a maior felicidade quando entrávamos no porta-malas de sua Vemaguete e dávamos voltas pela cidade.
            Num determinado dia, não sei se ela ou tia Geralda, na despedida, deu dez cruzeiros para um dos caçulas e falou que gastássemos com doces e balinhas. Foi a primeira noção que tive de dinheiro e percebi que compraríamos várias coisas. Fiquei realmente eufórico com essa quantia.

            Voltando aos carros, por essa época meu tio caçula (assim pensava eu) Dinarte, que por muito tempo foi chamado de Leão por nós (não sem motivo, porém, hoje não passa de um velho gato doméstico), possuía um Gordini. E a tia Geralda já possuía um Fusca.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

RMM – Autobiografia 53

            Eu também ficava, no mínimo, intrigado quando minha tia Geralda dizia às pessoas, quando se apresentavam: “Muito prazer!” “Igual mente”. Eu me perguntava: “Por que ela fala igual mente?”, não perguntei a ninguém, mas anos após descobri que era apenas igualmente.


            Agora, ao ir comprar pão, deparei-me com uma vizinha numa cadeira ao sol, então lembrei que era comum eu, outros meninos e adultos irmos para a rua pela manhã e ficarmos todos agachados nos aquecendo e usufruindo todo o bem que essa estrela nos traz. Provavelmente esse procedimento deve me trazer benefício até os dias de hoje, neste meio século de existência. 

terça-feira, 23 de julho de 2013

RMM – Autobiografia 52

            Tinha uns dizeres que, igualmente às músicas, eu não entendia: “Hoje é domingo, pé de cachimbo...” Mas ouvia e também repetia.

Quando cantavam “Manhê, o Tonico me bateu, roubou meu saco de pipoca...” eu imaginava... Será que este Tonico é o tio Tonim (o caçula de minha mãe e uma das pessoas que faz parte das minhas primeiras memórias, talvez por ter Síndrome de Down)? Ou será o tio Tozinha (esposo da irmã mais velha de minha mãe)? Ou poderia ser o tio Totinha (não cheguei a conhecer, irmão de meu pai, falecido logo após meu nascimento)?

sábado, 20 de julho de 2013

PMM 93

Quanto ao assassinato do DJ, estou achando muito estranhas as linhas de investigação que a mídia tem nos mostrado. Talvez seja estratégia da polícia, pois, pela lógica, um disparo ou dois à distância de 20 ou 30 metros, com a precisão que ocorreu, foi efetuado por um profissional. E este, na premeditação, estabeleceu que deveria ser realizado com arma de cano longo, tipo espingarda (para nós, leigos) e também, é óbvio que nessa operação havia mais armas e pessoas dando auxílio.

O que mais me entristece, além do ocorrido, é imaginar que talvez não se chegue aos culpados; e o desrespeito que as autoridades tiveram para com a esposa e familiares, permitindo, sem o menor pudor, que atitudes íntimas da vítima fatal fossem expostas por todos os meios de comunicação. Em que isto poderia ajudar nas investigações? Que falta de inteligência!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

RMM – Autobiografia 51

Certo dia um jovem rapaz, que já conhecíamos da casa anterior, pediu-me que o deixasse entrar em nosso lote para dar água ao seu cão após um passeio pelo cerrado. Talvez pela pouca idade, aproximei-me mais do que deveria do animal e ele me mordeu. Creio que chorei e minha mãe, chegando perto, nos olhou, questionando o que e por que havia ocorrido. O rapaz apenas se desculpava.

Noutro dia, passava um jovem senhor em uma lambreta fechada de três rodas (desta que até hoje vemos nas imagens da Índia) e, tentando desviar de uma poça de água, passou pela sua beirada, que era um chão inclinado; quando estava no final do perigoso percurso, a lambretinha virou. Fomos todos socorrê-lo, e ele saiu lá de dentro rodeado por populares com um corte no braço e um pouco sujo de lama. Sorridente e com muito bom humor, dizia que aquilo parecia piada (foi a primeira vez que ouvi esse termo: parece piada).

terça-feira, 16 de julho de 2013

RMM – Autobiografia 50

Ah, esqueci de dizer que sempre havia um revezamento de minhas tias mais novas em nossa casa: tia Ilma, tia Vilma e, a que mais era presente e caçula das mulheres, tia Carminha (não é apenas uma forma carinhosa de chamá-la, é que ela é, e sempre foi, pequenininha). Acreditávamos que o Wornes era apaixonado por ela, apesar da pouca idade, e, anos após, ele namorou e casou com uma moça que poderia ser sua sósia.  

sexta-feira, 12 de julho de 2013

RMM – Autobiografia 49

Vira e mexe aconteciam comentários entre nós sobre alguma coisa relacionada ao sobrenatural. Um dos itens mais intrigantes era o da estante; outro era sobre o pequeno carro de mão que meu irmão fazia fretes, principalmente na feira.
Conta a minha mãe que numa noite meu pai levantou duas vezes por ouvir que alguém estava carregando o carrinho. E, ao ouvir três vezes, disse que não mais se levantaria, pois, aparentemente, se tratava de algo assombroso.

Em outra noite, me encontrava no berço brincando com meus irmãos mais novos; minhas irmãs mais velhas estavam próximas enquanto minha mãe se encontrava na cozinha; por coincidência, os homens mais velhos (agora definitivamente ausentes) não estavam, pois ainda era cedo, não passando das oito e pouco da noite. Tudo estava dentro da normalidade quando, de repente, ouvimos um alto som, como um estrondo, e todos os olhos viram caindo papéis escritos, como se fossem jornais soltos de uma só vez, ecoando o som característico dessa queda; até, finalmente, atingir o chão. Em meu pânico, pulei para a cama de minha mãe, onde as mais velhas já se encontravam, ficamos os três paralisados e amontoados sem movimento ou fala. Minha mãe nos confortava passando a mão pelos nossos corpos e pedindo-nos calma, calma! Quando começamos a relaxar, ela se sentiu a vontade para recolher as dezenas ou centenas de quilos de papéis que havíamos visto pelo chão. Mas já não estavam lá. Então, em meus pensamentos, acreditei que ela não nos retiraria dali e dormiríamos com ela assim como estávamos. Mas, ao final, após meu pai e irmão regressarem e ouvirem dela o ocorrido, fomos convidados a nos encaminharmos às nossas camas.   

quinta-feira, 11 de julho de 2013

PMM 92

Sábado liguei a televisão pela manhã: no canal do religioso, passava um jornal; na maior emissora e na do idoso não me lembro; nas outras se expulsavam demônios, diziam como se dar bem na vida financeiramente e muito mais através de doações e orações; chegando naquela, que não sei se poderia dizer, governamental, havia um advogado falando sobre direito do consumidor. Como na do jornal passava muito mais propaganda do que o referido noticiário, e as outras não me interessaram, fiquei ouvindo o advogado até que, no encerramento de suas palavras, ele disse algo referindo-se ao livro “A sabedoria”.

Como muitos não devem saber, esse livro que se encontra no Velho Testamento, não faz parte da grande maioria das Bíblias adotadas pelos evangélicos, mas sempre esteve presente nas católicas. Então, a partir daí, reparei que havia um símbolo no fundo da imagem, retratando que seria uma bíblia sagrada aberta. Esperei, tentando saber de qual ramificação cristã aquele programa fazia parte, mas não consegui identificar. Porém, naquela manhã percebi porque estamos deixando de ser uma nação católica.

terça-feira, 9 de julho de 2013

RMM – Autobiografia 48

            Também fazia parte de nossa exótica dieta, as tanajuras. Era comum eu e alguns meninos comermos naturalmente a parte traseira e soltá-las, escolhíamos as maiores. Ás vezes, ao nos aproximarmos de alguma, percebíamos que só havia a parte dianteira composta de tronco, pernas e cabeça, indicando que alguém a encontrou primeiro. Num certo dia alguém sugeriu que deveríamos pegar vários traseiros e fritá-los, ainda me lembro daquela panela cheia, mas não gostei do que vi, e a partir daí acho que abandonei este petisco. 

domingo, 7 de julho de 2013

Evolução (PMM 91)

Evolução
Evolution
Évolution
Pt.5
            Realmente houve o incidente Caim e Abel, mas não descendemos apenas do assassino (aliás, como a história relata, aqui no Brasil, muitos que ainda carregam os traços dos brancos europeus portugueses descendem de marginais, talvez seja por isso que aceitamos “tanta coisa pela metade”). Após o casal, deixamos de ter seres superiores corporificados e, consequentemente, com a morte deles, aquele processo terminou. Porém, o plano original continuou tendo sequencia através de homens proeminentes que haviam guardado as tradições e ensinamentos daqueles que não mais existiam. E comum era, e continua sendo em nossos dias, que estes homens considerados santos abriam certas exceções para agraciar um maior número de pessoas. Esse número aumentava até que, no momento em que os santos pereciam, todos os seus sinceros ensinamentos eram transformados em rituais miscigenados, englobando todo misticismo e superstição dos menos informados.
            Os seres superiores em forma humana perderam a imortalidade por erros deles próprios, sendo assim após milhares de anos de convivência, entre nós, deixamos de ter essas excelentes companhias e ficamos a mercê de nossas próprias mentes predominantemente animais. Por isso, criaturas do alto, sabendo que UM superior havia decidido que aqui viria, resolveram, num ato emergencial, enviar um único e último ser até os dias de hoje que viria de mundos elevados e, aqui se tornaria carne e sangue, resumindo essa forma animal que nos designa, para preparar o caminho dO que viria. E aquele chegou repentinamente (Paulo o descreve: “Sem genealogia e nem número de dias...”): Melquisedeque. O qual Abraão achou por bem pagar-lhe o dízimo.

            Acredito que, se os autores do Velho Testamento tivessem mentes menos materiais ou mais espirituais, não falariam tanto de Abraão, Moisés, etc., mas sim de Melquisedeque, rei de Salém (ou, por que não, Jerusalém?!). Seu trabalho foi pregar e ensinar até os confins da Terra. Com certeza Confúcio, Buda, Sócrates e outros filósofos e pensadores que, coincidentemente ou não, apareceram em todo o mundo na mesma época, sofreram influência daqueles ensinamentos (mas isso não quer dizer, como já citei exemplo, que seus seguidores praticam o que os fundadores praticavam. Com certeza, se Gautama ou Confúcio vissem em que se transformaram seus ensinamentos, não os aprovariam nem os reconheceriam. Não estou falando mal, apenas relatando fatos e, dentre as várias doutrinas da atualidade, a budista se destaca como uma das melhores filosofias de vida). 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

RMM – Autobiografia 47

            Nessas andanças pelo cerrado, depois de certo tempo, os meninos mais velhos resolveram me revelar algo que eu desconfiava e já tinha ouvido falar, mas não conhecia: uma caverna construída às escondidas, nenhum adulto imaginava e talvez nunca souberam. A entrada era sempre camuflada com alguns objetos, amontoados ordenadamente. Em seu interior já cabiam cinco ou seis meninos abaixados, usava-se velas nos seus três ou quatro compartimentos. Normalmente, quando iam lá, combinavam de levar algum tipo de ferramenta para aumentá-la.

            Algumas semanas após minha primeira visita, tristeza e desolação afetou a todos, lá estava algumas toneladas de terra divididas por rachaduras, e a caverna destruída. Por sorte ninguém se encontrava em seu interior e nosso segredo ali ficou para sempre escondido.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

PMM 90

            Agora sim, sinto-me liberto da humilhação que sofremos há poucos anos na terra do sol nascente. Foi como se um de nossos irmãos se desse mal em uma confusão que envolvesse toda família e nosso patriarca, num outro momento, encontrando o líder oponente, dissesse: Sei que meu filho foi atrevido em acreditar que pudesse ter vantagem sobre o seu, mas este atrevimento ele conteve apenas para si. E vocês, muito pelo contrário, por aquele e outros fatos, se envaideceram e vieram aqui pensando que poderiam humilhar a toda família, porém, perceberam da pior forma que não é bem assim. Portanto, voltem para sua terra e, aproveitando, voltem a ter humildade. 

terça-feira, 2 de julho de 2013

RMM – Autobiografia 46

O dia mais marcante daquele primeiro ano da escola foi quando houve uma reunião de pais e mestres. Juntaram eu mais duas ou três crianças e ficamos olhando e criticando as pessoas que chegavam e, em dado momento, chegou a minha mãe. Eu fui o primeiro a chamar atenção para ela, não sei se por medo de outros o fazerem ou por não ter gostado de vê-la sem se arrumar (estava com as mesmas vestes que havia visto lavando roupas ao sair de casa), provavelmente foram ambas.
Outro dia pediram algo para ajudar no lanche do colégio. Minha mãe me deu um pouco de arroz e duas ou três batatinhas. Não sei por que, no caminho, joguei as batatinhas fora e coloquei na boca dois ou três punhados de arroz enquanto caminhava e dispensei o resto.

Em outro momento meu irmão chamou-me para dizer que estava esquecendo algo, não me lembra se era o uniforme e nem se tinha o material ou outra coisa.