segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

PMM 182

       Mautner: por incrível que pareça só tomei conhecimento desse cidadão do mundo há poucos anos, creio até que foi no “Boteco do Ratinho”. De lá para cá, sempre paro nos canais cujo o foco seja ele. O que me chamou atenção no último programa que vi “Mautner em Cuba”, foi a pregação que ele fazia, citando partes das Escrituras Sagradas e mais algumas coisas ligadas há Jesus de Nazaré, após alguns minutos lembrei-me de sua origem paterna judia, com certeza ele não pregava a Jesus Cristo por isto. Então meditei: apesar de alguns apóstolos ou talvez todos dizerem que Jesus deveria ser aceito como Cristo, atualmente não vejo tal necessidade, acredito que o mais importante é compreender os seus ensinamentos, com certeza compreendendo-os chegaremos a verdade de que realmente ele é Filho de Deus, e talvez possa ser que Ele não seja o Cristo judeu, pois na prática Ele não o é. Continuando com Mautner: não sei se o programa era exclusivamente para mostrar seu lado espiritual, mas foi isso o que se viu. Pensei: poderia eu no final dos meus dias pregar a Jesus ou as Escrituras desesperadamente por perceber a iminente presença da morte, ou o terror de uma velhice doentia, ou poderei fazer algo mais significativo. Voltando ao Mautner, se ele estiver sendo um pregador insistente como percebi via TV em seu dia a dia, com certeza seus amigos diminuíram ou evitam desfrutar de sua presença.

      Obs: Mautner, Jorge: cantor, compositor, escritor. Obra mais conhecido “Maracatu Atômico”, seus pais desembarcaram no Brasil, fugindo da segunda guerra, aonde logo após ele nasceu, em poucos anos separaram-se. Considero este e o fato de sua irmã não ter podido embarcar com seus pais para cá seu grande trauma. Mautner, se um dia ler este texto não me leve a mal, pois contigo me comprazo.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

RMM – Autobiografia 218

       De volta ao colégio. Meu pai, mesmo tendo muitos bens negava-se a comprar apontador para nós, dizia que deveríamos usar a gillette (esta marca foi por muitas décadas sinônimo de lâmina) que ele descartava após barbear-se. Na terceira série, o Ricardo que deveria ser meu principal companheiro de sala tinha um apontador top (metálico com duas formas) me emprestava sempre que pedia, porém um dia o avistei no chão, peguei-o e meio na dúvida acabei por levá-lo para casa. Entre os familiares dizia tê-lo achado pelo caminho da escola e quando o levava para aula tinha o maior cuidado em não expô-lo. Porém um dia enquanto a professora explicava certa matéria eu apontava o lápis, com as mãos abaixo da carteira. Tendo ela percebido me chamou a atenção pedindo que eu pusesse as mãos sobre a mesa, deixei o lápis e o apontador embaixo, então ela reforçou o pedido, dizendo que eu deveria continuar o que estava fazendo visivelmente. 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Minhas Viagens 4

       Após o incidente no ônibus, a memória leva-me diretamente a um hotel sujo e feio, próximo a rodoviária de Formosa. Fiquei alguns minutos no saguão, composto por piso de cimento liso avermelhado e paredes amareladas, sem ninguém para me atender, por sorte consegui me retirar daquele lugar e voltar à rodoviária (minha intenção inicial seria pegar carona e guardar os poucos trocados para alguma outra eventualidade, porém creio que naquele instante desisti). Então por ela (memória) sou levado a um momento de grande tempestade dentro de um ônibus, com destino a Posse, aonde em certa hora tensa, entre raios, trovões e grande quantidade de água caindo, e também sem mencionar que o motorista mantinha uma velocidade acima da segura, já escuro certa voz, provavelmente de um homem na segunda ou terceira idade se destacou, bradando para que todos pudessem ouvir “Deus é bom, se nóis soubesse o tanto que ele é bom, nóis tudo dobrava os joelhos e chorava”. Pensei: agora sim! Esta é a minha viajem. Chegamos ainda no inicio da noite na cidade e não precisei andar muito para encontrar um pequeno, porém limpo e aconchegante hotel. Logo após meu banho sai à procura de uma boa refeição pensando em uma churrascaria, mas me contentei com uma pizzaria, pois além do local físico ser bonito, estava frequentado por um grupo de jovens entre eles lindas meninas (era comprometido, mas sempre me senti bem rodeado por mulheres de preferência bonitas e/ou bem cuidadas). Havia certa tensão interior, pois aquela a meu modo de pensar seria minha última refeição sólida, e aquele pequeno hotel meu último local de descanso, a partir dali começaria a minha verdadeira viagem religiosa. 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

RMM – Autobiografia 217

    Um dos momentos mais desesperador para mim iniciou quando encontramos o Dema no bar do Zé, logo ao chegarmos. Meu pai determinou que ele voltasse à sede no carro com nossa família e deixasse o cavalo para ele. Não lembro-me se pedi ou meu pai tenha me chamado para lhe fazer companhia, mas sei que todos se foram e ficamos nós, eu aguardando-o e ele entre um e outro gole até o cair da noite, quando saímos. Eu com um saco de papel contendo duas latas de sardinhas em uma das mãos, sentado próximo ao rabo do animal, me segurava com os dedos da outra na beirada do arreio. Fomos por uma antiga estrada na área interna da fazenda, ela às vezes tornava-se apenas um trieiro e em outro trecho se alargava. Quando passamos por uma antiga casa, pertencente a uma das fazendas agregadas na formação até aquele momento da fazenda Areia, o cavalo ou égua não sei começou a andar cuidadosamente por uma íngreme decida, sem que eu percebesse, após um pequeno salto, acelerou o passo para romper a parte oposta que era uma íngreme subida, lógico. Eu me via caindo e rolando por entre as pedras, porém ao invés de soltar as sardinhas ou com elas na mão abraçar meu pai, suportei aquele momento apertando com muita força os dedos na beirada da cela e me inclinando o máximo possível à frente sem, no entanto encostar em meu pai. Não, não fui criado para abraçar meu pai ou qualquer homem, mesmo num momento como aquele. Hoje amigos e parentes me abraçam e beijam, faço certo esforço para corresponder, mas por mim mesmo ficaria apenas no velho aperto de mão, porém tento superar isto.