terça-feira, 29 de outubro de 2013

RMM – Autobiografia 80

            Tivemos uma mudança radical na vida, saindo de um barraco sem energia ou de um mundo sub-humano para outro mais evoluído. Uma das primeiras partidas de futebol que vimos em nossa primeira TV foi um jogo entre Fluminense e Botafogo.
A TV era uma telefunken em preto e branco. Meu pai falava que só compraria a colorida quando a telefunken a lançasse (não sei de onde ele tirou essa ideia, que era a melhor marca, mas como ouvia falar, acreditava).

            Meu irmão dizia torcer para o Fluminense, que ganhava de 1 a 0. Já o Botafogo, não sei se pelo nome, ou simplesmente por ele estar perdendo, talvez para contrariar meu irmão, ou por todos os fatores juntos, falei que era meu time. Jamais imaginei que me contrariaria tanto, mas fazer o que?! 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

RMM – Autobiografia 79

            Moramos menos de um ano naquela casa. O que de melhor ocorreu foi essa amizade entre vizinhos, no caso, seu Pedro. Foi com eles que fui pela primeira vez na Água Mineral, jamais imaginaria que seria a única até os dias de hoje. Íamos frequentemente ao CIT, que era um clube próximo às nossas casas, situado na região central de Taguatinga e desativado a mais ou menos uma década.

            Outro fato marcante foi quando, um dia, nossa família foi à festa dos estados, que se realizava nas proximidades da torre de TV. Eu e o Jefim nos perdemos dos demais, logo no início, e ficamos perambulando com pouquíssimo dinheiro a procura deles. Já no final da festa, encontramos todos saindo de uma das mais chiques barracas, e creio que era dos goianos, pois todos haviam se empanturrado de pamonha. Não nos ofereceram nada e nem nada compraram para mim. Simplesmente, como já estavam indo, fomos embora como se fosse muito natural dois meninos de 7 ou 8 anos desaparecerem no início de uma tumultuada festa e reaparecerem no final. Não sei se o Jefim foi tratado de igual modo. Até hoje minha mãe tem uma foto deles se alimentando na tal barraca. Sempre que a vejo lembro-me daquela situação.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

PMM 102

            “Ama a teu próximo como a ti mesmo”... “Porque se não nos amarmos, como poderemos amar outras pessoas?”. Quando vi esse comentário, do Iurassek, fiquei envergonhado, pois não pude compreendê-lo. Achei que ele distorcia o mandamento, mas, quando nos encontramos disse-lhe que não havia entendido seu comentário. Então ele tentou me explicar e a forma das suas palavras não me foi totalmente convincente.
            Disse-lhe que em minha mente, na atualidade, não consegui adaptar seus argumentos e precisaria de alguns dias para fazê-lo, e aí comentaria seu comentário (não sabia que se comentava comentários, porém todos me cobram isso. Iurassek me disse que, nesse caso, chama-se réplica).
            “Como amaremos os outros se não nos amarmos?” Faz parte de nossa evolução, realmente, partirmos do egoísmo ao altruísmo, da guerra à paz, da animalidade à espiritualidade, etc. Portanto, aparentemente, há muitos males necessários que ocorram para que um bem maior nasça.

            Refiro-me ao comentário da Epístola de Setembro. 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

RMM – Autobiografia 78

            Enfim mudamos da vila para outra área nobre de Taguatinga. Porém, a casa ficava muito abaixo da desejada e minha mãe não aceitava esse fato. Era uma casa pequena no fundo de um grande lote na QNA (Quadra Norte A), enquanto a outra que achávamos que moraríamos ficava na QSA (Quadra Sul A). Fizemos amizade com um dos vizinhos, seu Pedro, que tinha quatro filhos, um de idade próxima a minha: Jefim (Jeferson), que se tornou meu parceiro por muito tempo. Perdemos o contato a alguns anos, porém, creio que ele se encontra ainda por aqui pelo Distrito Federal. 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

RMM – Autobiografia 77

Ainda no posto, tivemos um dia inesquecível pela sua ambiguidade: minha mãe comprou vários cocos e disse que nós os comeríamos no outro dia com açúcar. Foi uma ótima manhã, podíamos comer à vontade. Mais tarde, quando perguntamos pelo almoço, a resposta foi: “Não! Come mais coco.” Quando nos encontrávamos saturados, começou as cenas traumáticas, todos fazendo o “2” pelo quintal afora e saindo criaturas em forma e tamanho de minhocas. Pelo que lembro algumas saiam ainda vivas. Os irmãos mais novos se desesperaram, saindo correndo e chorando com aquelas coisas penduradas. Apesar de muitos acharem incomum esse tipo de “lombrigueiro”, naquela época era normal, segundo relatos. 

RMM – Autobiografia 76

            ... Assim meu pai se mostrou presente na cidade, sendo um dos homens mais respeitados naquela época devido ao seu poder econômico, uma presença marcante pelo trajar e tudo fortalecido pelo automóvel. Comprou vários imóveis em diversas áreas, mas um em especial chamou a atenção de minha mãe: uma casa de esquina na área mais nobre de Taguatinga. Íamos lá com frequência para ver o andamento da obra em companhia do meu pai. Em algumas semanas, estava pronta. Uma das mais imponentes casas da cidade. Não seria de se imaginar a decepção de minha mãe quando soube de sua venda (acredito que ele realmente pensava em fazer daquela casa nosso lar, porém deve ter recebido uma proposta irrecusável para vendê-la).

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

PMM 101

Há tempos um companheiro de serviço tido como religioso evangélico me fez um gráfico de várias religiões cristãs. Entre elas não estava a Católica Apostólica Romana. Eu lhe repreendi dizendo que ela não poderia estar excluída do gráfico.
Dias após, conversando com outro, porém católico, comentando segmentos religiosos, excluiu todas as outras, afirmando que a única verdadeira era a sua, pois foi “Pedro que a fundou”.

Recentemente, vendo um gráfico numa certa revista, demonstrando as diversas religiões e suas perdas e ganhos de fiéis nesses últimos anos, no lugar de religiões cristãs, estava escrito “religiões católicas”. 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

RMM – Autobiografia 75

            Uma das primeiras coisas que meu pai fez em posse do dinheiro da venda do terreno foi comprar um Dodge Dart vermelho e alguns metros de corrente e cadeado para envolvê-lo todas as noites, não que a área fosse violenta, mas apenas por precaução.
Era final de 71 e, alguns dias após, vieram os rapazes trazendo um buquê de rosas vermelhas para presentear o comprador do carro. Ao chegarem no endereço e verem o barraco e as crianças maltrapilhas, acharam um absurdo que aquela jovem senhora e a molecada fossem a família daquele cidadão que havia comprado um dos primeiros exemplares daquele automóvel de luxo em Brasília.

            Assim que meu pai soube dessa surpreendente visita, comprou roupa para todos. Após esse episódio, também passei a ter café da manhã que minha mãe preparava e o Júnior comprava os pães. Por essa lembrança fica claro que anteriormente me dirigia ao colégio em jejum, provavelmente quebrando-o com a merenda escolar.  

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PMM 100

            Assim que meu pai passou a se portar como louco aos olhos dos que acreditam serem normais, dizia:
- Os americanos, através do FBI, instalaram um equipamento em minha cabeça e estão monitorando tudo que eu faço e penso.
E eu dizia:
- Como pai? Isso não é possível.
- Eu não sei. Só sei que fizeram e não tem como tirar.
No decorrer dos anos, em meus diálogos com “loucos”, outros me relataram histórias semelhantes, citando também o FBI. Hoje, em homenagem a eles, sempre que estou ao telefone falando alguma besteira, aviso para quem está do outro lado tomar cuidado, pois acho que meu telefone está grampeado pelos federais americanos.

Por que vários loucos sem contato entre si me relataram as mesmas palavras? Poderia ser um coincidente fato da loucura ou algo um pouco acima do compreensível, tentando nos alertar para este ato descabido?

terça-feira, 8 de outubro de 2013

RMM – Autobiografia 74

            Nas escolas públicas, pelo menos em Brasília, todos os 1os Anos adotavam o mesmo livro que falava de tal Ataliba e sua família quase perfeita. Nos 2os Anos, o livro falava sobre uma patinha. Também havia o hasteamento das bandeiras que, na menor das hipóteses, ocorria nas segundas-feiras, com todos os alunos em ordem ouvindo o hino nacional. Descíamos a bandeira na sexta-feira. A hora cívica também poderia ocorrer diariamente.  

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

RMM – Autobiografia 73

            Só me lembro de quatro emissoras de televisão: Tupi, Globo, Record e Nacional, todas tinham um horário limitado de programação, iniciado normalmente no fim da manhã e encerrando por volta da zero hora. É difícil descrever tudo que se via, mas, conforme vier em minha mente, relatarei programas como os desenhos animados: Urso do Cabelo Duro, Corrida Maluca, Zé Colmeia, Leão da Montanha, Pepe Legal e outros. Isso porque não possuía TV em casa. Lembro-me também de alguns cantores internacionais: Jackson 5, Frank Sinatra, Elvis Presley, Ray Charles, etc. e também da música francesa com sentido sexual que ouvimos por muitos meses até que os militares a proibiram, sem falar de Jorge Bem, Roberto Leal, Perla, Gal e Tim Maia.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

RMM – Autobiografia 72

            Sete de Setembro era sagrado. Chovesse ou fizesse sol meu pai nos levava. O ponto alto era os presidentes nos Royce Rolls abertos, não imaginava que aqueles senhores matavam e torturavam. Só fui tomar conhecimento desses fatos e procurar me esclarecer a mais ou menos dez anos. Havia uma cortina que nos limitava a visão. O que eu ouvia referido a isso, naquela época, para mim era apenas mais algum caso como os relacionados a bicho papão, lobisomem, caipora, etc. Ah! E antes que eu me esqueça, o que nos apavorava naquela época era a loira misteriosa. A mídia relatava casos sobre ela todos os dias.