quinta-feira, 30 de junho de 2016

Minhas Viagens 7

       Encontrava-me exausto e por medo ou precaução caminhava por sobre o asfalto, indo de um a outro lado como se ele me pertencesse, quando a fadiga tornava-se insuportável sentava em sua beirada, apenas com os pés em sua margem. Por diversas vezes acabava deitando naquela posição, quando percebia que um cochilo seria iminente ou até mesmo poderia ter ocorrido, voltava a posição de sentando ou interrompia meu descanso e tornava a seguir meu caminho. Assim me portei até perceber que a noite estava sendo invadida por uma tímida claridade e alguns veículos já passavam. Com o dia claro reparei que a vegetação era farta e que nela se destacava grandes árvores com troncos repletos de espinhos, perto ao solo eram de uma espessura menor e logo após engrossavam, mais alto afinavam novamente e começavam as galhas. Na chácara havia uma muito semelhante àquelas e por estas características a chamávamos de barriguda. Ah! Em meio à noite pensei ter visto algo sobrenatural ao longe, tive a impressão que uma árvore grande aumentava e diminuía de tamanho, porém meu raciocínio levou me a crer que aquilo era apenas reflexo do cansaço e sono. Já com o Sol presente avistei uma casa próxima à pista, com um comprido banco na área externa coberta. Pensei: vou dar uma descansada naquele banco. Abri a porteira e logo deitei, não demorou muito e encostou um carro em frente, meio sem graça apressei em cumprimentar o casal do veículo e perguntar se eles iriam entrar, tendo sim como resposta, abri o portão.

terça-feira, 28 de junho de 2016

RMM – Autobiografia 235

        Dinarte (leão ou Tileão): sua maior atrocidade contra mim foi quando eu por volta dos meus doze anos, tímido e muito vergonhoso pelas transformações que começavam em meu corpo, banhava na piscina próximo a ele pensando que a distancia entre nós fosse segura, quando num ímpeto se jogou contra mim e me segurou pelos pés, tentei conter meu pânico e dialogar com ele que apenas falava: - Agora te peguei. Deu-me chance de mais uma tentativa de fuga foi quando ele me segurou pelo short, tendo tirado-o quase até o joelho, parece que isto lhe deu inspiração, fazendo com que ele o arrancasse definitivamente. Me revoltei, fiquei rodeando e insultando-o para que ele me devolvesse o short, então ele novamente me agarrou e me levantava por sobre a água e gritava a todos para virem ver o espetáculo, em contra partida eu bradava aos prantos para que ninguém se aproximasse. Lembro-me de minhas irmãs serem atraídas pelo barulho e percebendo o que se passava atenderam meus apelos e retrocederam, porém a esposa dele, Tia Irene, bem próxima a piscina dizia a ele que parasse com aquilo e devolvesse o short, enquanto eu lhe implorava que fosse para dentro da casa e não olhasse para mim naquela situação, em vão insistia que ela saísse, ficou até o fim do espetáculo tendo o Leão me tirado varias vezes da água e de diversas formas. Não me lembro bem, mas provavelmente xinguei os dois, mais a minha tia, por não ter conseguido deixar de assistir todas as cenas. 

domingo, 26 de junho de 2016

PMM 193

    Tinha interesse a uma candidatura, pois muitos me cobravam devido a minha popularidade e provavelmente algo mais, fora o seguir os passos de meu pai, porém não sabia se poderia conciliar política com meus ideais religiosos. Mas naquela eleição tudo estava caminhando para uma provável candidatura. Imaginava que poderia fazer discursos acalorados e através de minha honestidade e conhecimento ter atitudes revolucionarias. Carregava uma moeda antiga francesa com a máxima: Liberté, Egalité, Fraternité até que um dia, após uma noite de bebedeira, cadê a moeda? Retornei aos bares que passara e todos foram unânimes em dizer “não aqui não”. Ainda tenho esperança de encontrá-la. Bem, esquecendo-a por enquanto. Ah! Usei este lema em meu primeiro santinho e ao informar este fato a uma dirigente partidária, ela me perguntou se eu era maçom, respondi que não e qual o motivo da pergunta, continuou dizendo que igualdade, liberdade e fraternidade originavam-se dos maçônicos. Eu não sabia, respondi. Sei que todo aquele período foi muito estressante, fora o fato de ter me separado da mulher que eu não sabia que amava (desde o inicio parecia ser apenas mais uma briga de casal e a separação não durou mais que poucos meses, agora a separação atual me consome e já passa de ano). 

sábado, 25 de junho de 2016

RMM – Autobiografia 234

       De imediato o Tirêu falou que havia ido à festa com um amigo, mas não tinha visto a homenagem prestada a minha mãe, como ex-primeira dama, sendo que ela foi a precursora de todas as outras do município. Em meus pensamentos, imaginei ele indo a pé ou de bicicleta com algum outro caseiro do condomínio.
          Mais tarde no Tio Lilo, ele me disse que o Rêu tinha estado lá na noite anterior, procurando um local para estacionar a camionete do seu amigo e ele deu um jeito. Relatei ao meu tio o que havia pensado a respeito do amigo e ele me respondeu: - Você ta é por fora das amizades do Rêu, há um tempo atrás um amigo dele arrumou uma cirurgia de hérnia com um médico conhecido, advinha o que o médico fez? – Não sei não. – Levou o Rêu para se recuperar na casa dele.

           Logo depois relatei este novo causo do Rêu a outros parentes, entre eles minha tia Vilma que é a mais culta academicamente falando entre todos da família, inclusive os mais jovens. Eis sua versão: Nossa nunca passei tanta vergonha, fui buscar ele e me disseram: - Não ele não esta aqui. – Tá aonde então? – o médico que operou ele o levou para recuperar em sua casa. Cheguei na casa do doutor morta de vergonha e disse que estava lá para levar o Rêu, ele respondeu: - Não ele vai ficar aqui comigo. – mas como vai ficar eu sou a irmã dele, ele trabalha comigo vou levá-lo pro meu apartamento. – não já arrumei o quarto pra ele ficar aqui, ele não vai não. – Deixa eu ir falar com ele. Chegando ao aposento: - Oi Rêu vim te buscar vamos comigo. – Não vou não, já to aqui vou ficar por aqui mesmo. 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

PMM 192

      “Este é ficha limpa”, seguia o nome, número e foto correspondentes ao candidato a vereador Marco do Mercado, sendo que as palavras inicias foram ideia do responsável pelo jornal.
Assim começou meu contato com um maior número de pessoas. Logo após pensei em dizer através de poucas e impactantes palavras mais coisas a meu respeito, formaram-se estas: “Seu pai, foi o mais jovem prefeito... Seu padrinho Governador de Goiás... Ambos na gestão do mais admirável Presidente da República Juscelino Kubitschek”. Todos ficaram curiosos e quiseram saber quem teria sido meu pai e o tal padrinho; dei explicações a poucas pessoas isto verbalmente, dizendo que meu pai havia sido em sua gestão o mais jovem prefeito de Goiás, no recém emancipado município de Nova Veneza, por falar nisso, após mais de meio século deste fato, agora dia primeiro de julho, haverá a sua devida, aguardada e merecida homenagem. Pela magnitude da obra digo que valeu a pena esperar e não tenho palavras para agradecer todos os envolvidos nesse episódio, que por ironia partiu de uma pessoa não aparentada a ele, provavelmente um grande admirador seu que no momento pertence através de laços matrimonias há família de minha mãe, a todos um muito obrigado. Continuando, quanto ao meu padrinho: José Feliciano governador do estado também na mesma gestão. Pensei por toda vida que deveria conhecê-lo e até vi sua imagem na época de minha candidatura, mas fui deixando para depois e ele acabou falecendo, devido à avançada idade. Só após soube através de minha mãe, que ele ao ter ciência de sua gravidez se ofereceu e fez questão que dessem o menino para que ele batizasse. Talvez por pensar que o tal batismo tivesse ocorrido como na maioria das vezes (em que os pais escolhem os padrinhos entre os mais proeminentes conhecidos) teria me atrapalhado a procurá-lo, e o Kubitschek além de presidente tinha um laço de amizade com o Feliciano.
            Observação: este pensamento deverá ser o início do meu segundo ou terceiro livro e acredito que estará disponível a todos em alguns meses.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

RMM – Autobiografia 233

       Interrompendo a cronologia: Areovaldir, Tirêu, ou apenas Rêu, sendo que o “R” deve ser pronunciado como nos dois primeiros nomes próprios. Precisava vê-lo, então em Nova Veneza ao raiar do penúltimo dia de domingo por perder o sono, levantei-me e disse a minha mãe e filha, vou no Tirêu. Chegando lá, a principal intenção era me informar quem estava com ele no fusca, fora meu pai e meu irmão, se era o Valdirão ou o seu Arnaldo, pois tinha certeza que meu pai havia ido buscar um peão em Nova Veneza. “Não, só era nós, sai de lá dizendo que não ia voltar e ele veio atrás falando que a chácara não podia ficar sem mim”. – E como foi o capotamento? – Não lembro de nada não, só sei que foi uma barulheira e faísca pra todo lado, a gente não sabe se tá de pé ou cabeça pra baixo, não sei como ninguém machucou. – Pois é tio. – Só sei que o carro parou de pé e nós acabamos de chegar.

          Nos últimos anos de vida, meu pai falava só, ou com ele mesmo, ou com quem mais pudesse ouvir, que o momento mais angustiante da sua vida foi quando o carro parou e ele não viu o Júnior, que dormia no banco de trás, após alguns gritos chamando seu nome em desespero, ouviu um resmungado por entre a relva. Lá estava o pré-adolescente e rebelde Júnior apenas com alguns arranhões. 

terça-feira, 7 de junho de 2016

PMM 191

       O recém-nascido não via seu pai, apesar de saber que ele existia, e se viu só. Ao afastar-se da meretriz vagou por 5 dias procurando ajuda, a cada ser humano que se aproximava encostava a procura de aconchego e um pouco de carinho e compreensão. Por fim muitos que poderiam adotá-lo, pelo menos por um período tiveram que afastar, pois o bebê era muito chorão e ainda alguns que ele confiava mais, simplesmente em dado momento lhe viraram as costas, mas nos 5 dias sabendo ele que não poderia voltar a sua mãe, procurava pelo seu pai emitindo sons vocálicos chorosos a todo instante, as vezes chegava mesmo a acreditar que era totalmente órfão e deveria desistir de viver naquele ambiente hostil, mas continuou: -Pai, Pai me socorre, Pai todos me abandonaram, Pai me ajuda, Pai não entendo tanta fraqueza, me envergonho de mim mesmo. Se fosse possível, em um ato de sua vontade sem uso de objetos alheios a criança decretaria sua própria extinção. Por fim sem que ela desse conta uma porta se abriu repentinamente. Meu filho estou aqui, não chores mais, preciso de homens fortes que saibam se virar sozinho, por isso em seus primeiros passos para ti pareci ausente, porém nem por uma fração de segundo estiveste só, todos os que te aturaram serão recompensados e até mesmo os que lhe viraram as costas terão benefícios, simplesmente por serem seus próximos e por você e eu os amá-los.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

PMM 190

        Marco Marcial, nascido em 30/05/2016. Um parto doloroso, sofrido. A criança em suas primeiras percepções, instintivamente acreditou que seu organismo e mente poderia não suportar, esforçou-se para ficar no útero da prostituta, drogada, estúpida e ignorante que de igual forma não queria expeli-lo, quando o fez se irou por saber que não poderia conter os outros gêmeos que viriam, e são muitos. Ela tenta de todas as formas agarrar o quase indefeso, e enfiá-lo de novo em suas entranhas nojentas, imundas. Mas a criança já pensa, já é nascida, não, não, ela não voltará e procurará criar forças para ajudar os outros, fetos inconscientes que se portam como ele portara e quem sabe talvez quando crescido, ele consiga com a ajuda dos irmãos curar a grande meretriz.

     Tentei nascer duas vezes nessa data, pois vim ao mundo no dia 28/05/64 e meu pai sendo um visionário idealizou que se a ditadura perpetuasse nesta nação, a única forma dele assumir a presidência da república seria através de mim, pois em seus devaneios imaginou que eu poderia me tornar um general (morreu louco, anos antes perdeu as esperanças que isto ocorreria, num breve diálogo comigo, tomou ciência que no máximo eu poderia atingir o cargo de Major. Todas suas expectativas a este respeito se desvaneceram quando fui desligado oficialmente do militarismo). Ah! Ele também imaginava que eu me casaria com uma princesa, impossível, mas o impossível aconteceu.