Meu pai não me causava estranheza até essa idade,
retirando o episódio ocorrido no dia da decisão da copa. Mas analisando os
fatos e acontecimentos ligados a ele a partir de uma experiente e adulta mente,
era um homem, na menor das hipóteses, diferente. Não saía de casa sem estar
trajado com terno e gravata, chovesse ou fizesse sol. Raramente víamos seus braços
ou, até mesmo, joelho e canela. Quando fazíamos algo que o contrariasse, emitia
uma espécie de chiado: “Pssst!” e, ao olharmos para sua face, víamos uma feição
irada, principalmente entre os olhos e os cabelos (que eram penteados com uma
escova ou pente de bolso). Normalmente saía de manhã e retornava a noite sobre
efeito de certa quantidade de bebida destilada. Quando o consumo passava um
pouco da medida, trazia algumas balinhas e ficava sentado com uma cara de bobo,
brincando conosco entre soluços e sorrisos que não mostravam os dentes. Aliás,
eu pensava se tratar de duas dentaduras, só percebi que era apenas uma após
algumas décadas. De manhã comia um ou dois ovos mal cozidos em um copo
misturados com azeite, sal e pimenta do reino (às vezes faço para mim e meu
caçula, experimentem!). As raras vezes que ele almoçava em casa, minha mãe
preparava comida e o servia. Quase não discutiam, não se abraçavam e nem
beijavam, a conversa era “não”, “não” e “sim”, “sim”. Quando ela fazia algumas
cobranças, ele dizia: “Paciência!”. Se ele não houvesse saído para não mais
retornar ao corpo corruptivo, há nove anos atrás, hoje comemoraríamos seu
aniversário.
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