quinta-feira, 20 de junho de 2013

RMM – Autobiografia 43

Meu pai não me causava estranheza até essa idade, retirando o episódio ocorrido no dia da decisão da copa. Mas analisando os fatos e acontecimentos ligados a ele a partir de uma experiente e adulta mente, era um homem, na menor das hipóteses, diferente. Não saía de casa sem estar trajado com terno e gravata, chovesse ou fizesse sol. Raramente víamos seus braços ou, até mesmo, joelho e canela. Quando fazíamos algo que o contrariasse, emitia uma espécie de chiado: “Pssst!” e, ao olharmos para sua face, víamos uma feição irada, principalmente entre os olhos e os cabelos (que eram penteados com uma escova ou pente de bolso). Normalmente saía de manhã e retornava a noite sobre efeito de certa quantidade de bebida destilada. Quando o consumo passava um pouco da medida, trazia algumas balinhas e ficava sentado com uma cara de bobo, brincando conosco entre soluços e sorrisos que não mostravam os dentes. Aliás, eu pensava se tratar de duas dentaduras, só percebi que era apenas uma após algumas décadas. De manhã comia um ou dois ovos mal cozidos em um copo misturados com azeite, sal e pimenta do reino (às vezes faço para mim e meu caçula, experimentem!). As raras vezes que ele almoçava em casa, minha mãe preparava comida e o servia. Quase não discutiam, não se abraçavam e nem beijavam, a conversa era “não”, “não” e “sim”, “sim”. Quando ela fazia algumas cobranças, ele dizia: “Paciência!”. Se ele não houvesse saído para não mais retornar ao corpo corruptivo, há nove anos atrás, hoje comemoraríamos seu aniversário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui